terça-feira, 12 de março de 2024

GUILHERME JOAQUIM BOTO DA PIEDADE

(id 560)


Capitão, músico militar, chefe de orquestra, compositor e director de coros.

Nasceu na vila de Aviz a 23/06/1884.

Casou a 7/11/1908 na freguesia da Sé de Elvas.

Morreu a 28/06/1952 em Aviz, Elvas.

Pai
Matias das Dores


Mãe
Joana das Neves Boto


CASAMENTOS/UNIÕES
I
LAURENTINA TEIXEIRA GUEDES


FILHOS
Afonso Guedes da Piedade
Dinah Guedes da Piedade


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Fonte(s):
GENEALOGIA DAS FAMÍLIAS ...
(Arqº Álvaro Magro de Moura Bessa)
pág(s): 147

Regina Maria de Lamares Mendes Guedes da Piedade e Lírio

OUTROS DADOS


PIEDADE (Guilherme Joaquim Boto da). Filho de Matias das Dores e de D. Joana das Neves Boto, nasceu o capitão Guilherme Joaquim Boto da Piedade na vila de Aviz, em 23 de Junho de 1884.

Desde muito novo revelou aptidões para a música, que sempre predominava no seu espírito, recebendo aos 9 anos de idade, em 1893, as primeiras lições de Solfejo que lhe foram ministradas pelo amador e regente da Filarmónica 1º de Dezembro, de Aviz, Joaquim Lobato Sénior.

No ano de 1897 foi para a citada vila de Aviz o músico de 1ª classe, reformado do exército, José Joaquim Pereira de Carvalho, a quem chamavam “o Carvalhinho” dada a sua pequena estatura, que lhe leccionou, além de Teoria de Música e Solfejo, Flauta e Cornetim. Já sob a direcção do seu novo professor, Guilherme da Piedade iniciou-se como executante da aludida Filarmónica 1º de Dezembro, onde tocava flauta, flautim e cornetim.

Em 17 de Janeiro de 1901, aos 16 anos, assentou praça no Regimento de Infantaria nº 22, em Portalegre, fazendo serviço na respectiva banda e passando então a tocar cornetim, instrumento em que mais tarde foi exímio.

Verdadeiramente apaixonado pela sua arte e dedicando-se com grande entusiasmo ao estudo da técnica musical, progredia no sentido de adquirir novos conhecimentos e aperfeiçoar aqueles que já possuía, o que lhe conferia prestígio dentro da classe militar, favorecendo o fácil acesso aos postos mais elevados. Assim, foi promovido a músico de 3ª classe nos fins de 1901 (ano em que assentou praça), a 2ª classe em 1903, a 1ª classe em fins de 1904 e a subchefe de música em 1907, tendo nesta altura 6 anos de serviço e 22 anos de idade.

Quando músico de 1ª classe, em 1905, esteve em Braga na Banda do Regimento de Infantaria nº 8. Foi nessa ocasião que começou a escrever, já com alguns conhecimentos, as suas primeiras obras musicais, destinando-se a um grupo cénico constituído por civis e sargentos que havia nesta cidade. Datam de 1906 as suas composições: Alegres Noites (1ª abertura) e Canções Portuguesas (1ª rapsódia).

Na ânsia de saber, e durante uma curta permanência em Lisboa, tomou lições da harmonia com o chefe de música do Regimento de Caçadores nº 2 e de Composição Musical com Joaquim Fernandes Fão, chefe da Banda da Guarda Nacional Republicana.

Não podendo cursar qualquer Conservatório por se encontrar distante, consultou tratados de harmonia, contraponto e fuga, instrumentação e composição musical, que muito o auxiliaram na sua formação profissional e artística, tendo obtido a sua promoção ao posto de alferes em 24 de Janeiro de 1914, a tenente em 24 de Janeiro de 1918 e a capitão em 11 de Março de 1922, respectivamente com as idades de 29, 33 e 37 anos.

Guilherme da Piedade compôs em Évora o Hino do Jornal O Alentejo e O Corvo (Fox-trot), a pedido da Academia Eborense, o qual ilustrou a revista do mesmo nome que era publicada pelos estudantes daquela cidade.

Quando da sua estadia em Castelo Branco fundou um orfeão, que fez a sua estreia em 15 de Março de 1930, com 90 figuras, ultrapassando, mais tarde, o número de 100 componentes.

Deu concertos naquela cidade, na Covilhã, em Portalegre, em Castelo de Vide e no Fundão. Ainda em Castelo Branco, em 13 de Setembro de 1929, realizou uma conferência subordinada ao título "Evolução da música no nosso país", pelo que recebeu um louvor do Batalhão de Caçadores nº 6.

Em Setembro de 1923, a pedido próprio, foi transferido para Braga pela segunda vez, assumindo, nessa altura, a direcção da Banda do regimento de Infantaria nº 8, lugar que conservou até ao dia 1 de Abril de 1928.

Nesta cidade, onde contava inúmeros amigos e admiradores, procurou elevar o nível dos concertos que a sua banda executava no coreto da Avenida Central todas as quintas-feiras e domingos, apresentando sempre programas de música escolhida entre a melhor que encontrava no seu arquivo pessoal e no privativo da mesma Banda.

Em 1924 fundou a Tuna do orfeão de Braga – mais tarde, uma autentica Tuna-Orquestra -, que se exibia nos mesmos concertos em que actuava o referido Orfeâo, sendo ele o grande animador, principal entusiasta e seu primeiro director artístico. Esta Tuna causou sempre a melhor impressão no público, obtendo também grande êxito em todos os espectáculos que se fazia ouvir. Guilherme da Piedade, além de ensaiar e dirigir, instrumentava ele próprio para a sua Tuna as peças que devia executar. Escolhia, dentro das possibilidades dos seus componentes – havia alguns que não sabiam música, nomeadamente os violões -, os programas de música mais elevada que lhe fosse possível apresentar, chegando a ensaiar e fazer executar, o Momento Musical, de Schubert, a valsa da ópera Freischutz, de Weber, uma selecção da ópera Bohème, de Puccini, outra da ópera Carmen, de Bizet, a Serenata de Moszkowski (tocada a "solo" de violino pelo distinto violinista amador, Adriano Rodrigues – ver este nome -, e acompanhado pelos restantes), a Canção de Solveijg, da suite Peer Gynt, de Grieg, etc., etc.

Simples e bondoso, o capitão Piedade, como era conhecido, foi sempre muito estimado pelos executantes e nunca faltava aos ensaios da sua Tuna (a não ser por motivo de força maior), nem que fosse o único a comparecer!

A citada Tuna do Orfeão apresentou-se em Braga(1) e em várias localidades do país, entre as quais Esposende, Vila do Conde, Viana do Castelo e no Porto. Nesta última cidade, no Teatro de S. João e em 2 de Maio de 1926, foi exibido o seguinte programa:

Brisas do tejo – Ouverture

J. Vieira

Peer Gynt – Chanson de Solveigj (nº4 da 2ª suite)

Grieg

La Bohème – Ópera

Puccini

La Madre del Cordero – Passacale e Jota

Caballero

Canções Portuguesas – 7ª Rapsódia

G. da Piedade


(1) - A referida Tuna fez a sua estreia no palco do teatro Circo desta cidade, na noite de 3 de Abril de 1924, por ocasião da festa promovida pelo Orfeão de Braga, cuja execução agradou plenamente à assistência, tendo a imprensa feito referências elogiosas, tanto ao conjunto musical como ao seu “maestro”. A seguir transcrevemos a apreciação do crítico de "O Comércio do Porto", que se lê no respectivo jornal do dia 4 de Maio de 1926(2):

"...A terceira parte do programa, que foi preenchida pela Tuna, teve um verdadeiro sucesso, já pela maneira admirávelcomo se apresentaram os executantes, já pelo nervosismo e saber do seu regente, o Snr Guilherme da Piedade, que nas Canções Portuguesas, da sua autoria, se revelou um compositor de alcance, com uma técnica segura.

Peer Gynt (e não "Gejut", como os programas dizem), foi aplaudido pela assistência, com veemência, tão brilhantemente se acentuaram os jogos das melodias.
A Boémia, de Puccini, de difícil execução, teve relevo, emotividade e calor.
A Tuna, a pedido do público, tocou dois trechos de música extra-programa – e tocou-os com a mesma beleza dos anteriores."

Guilherme da Piedade dirigiu ainda a Tuna Académica do Liceu de Sá de Miranda, de Braga, por ocasião da récita produzida pela aludida Academia, em 1 de Dezembro de 1924 (3).
Em 16 de Fevereiro de 1925 regeu no Teatro Circo a opereta militar em 3 actos, "A Bastilha", no espectáculo promovido e desempenhado pelo grupo cénico da Escola Industrial e Comercial de Braga, espectáculo que se repetiu a 23 de Março seguinte, em benefício do Colégio dos Órfãos de S. Caetano.
Em 1926, a convite dos interessados, escreveu o Hino-Marcha do Sporting Clube de Braga (op. 109), executado pela primeira vez no Teatro Circo pela Banda do Colégio dos Órfãos de S. Caetano, em 21 de Junho daquele ano de 1926. O referido Hino, pelo qual o capitão Piedade recebeu 60$00, foi escrito para banda e quarteto de cordas com piano.

(2) - Só transcrevemos a parte da crítica relativa à Tuna. (3) - A récita foi realizada no Teatro Circo e a Tuna exibiu-se no palco do mesmo teatro.

Nos dias 1, 6 e 8 de janeiro de 1928, à frente de uma orquestra com cerca de 25 executantes, dirige, com muito êxito, a opereta sacra O Nascimento do Salvador, levada à cena no extinto Salão Recreativo Bracarense, pela Sociedade Dramática.

Entre os vários jornais onde escreveu tratando assuntos de música, mencionamos o "Eco Musical" e o "Diário do Minho", jornal de Braga, onde mantinha uma secção intitulada: Notas ao Vento.

Compositor muito competente, escreveu cerca de 122 obras, incluindo trabalhos menos valiosos, sendo consideradas as suas melhores composições: A Lenda de Abrantes (suite sinfónica – op.67), Coutinho-Sacadura (poema heroico – op.83) e Aviz (poema sinfónico – op.114).

Além doutras composições, o capitão Piedade escreveu:

- 40 marchas (incluindo marchas fúnebres, marchas graves, passo dobles, etc.);
- 3 polcas de concerto;
- 12 rapsódias;
- 7 aberturas de concerto;
- 2 aberturas sinfónicas;
- 1 fantasia sinfónica;
- 2 fantasias para cornetins;
- 1 fantasia para clarinete;
- 1 fantasia burlesca;
- 8 suites (entre as quais duas sinfónicas e uma coreografada);
- 5 poemas sinfónicos;
- 1 poema heroico;
- 1 canção para quatro vozes;
- 1 canção para canto e piano;
- 1 cânone para quatro vozes;
- 1 dueto para flauta e flautim;
- 8 hinos;
- 1 valsa com solos de bombardino;
- 1 quadro sinfónico.

sendo a maior parte dos seus trabalhos escritos para banda.

Guilherme da Piedade foi regente de banda no Batalhão de Caçadores nº 6, em Castelo Branco, e nos seguintes Regimentos de Infantaria: nº 8, em Braga; nº 10, em Bragança; nº 12, na Guarda; nº 29, em Évora; nº 31, em Abrantes; e nº 33, em Lagos, não tendo nós conhecimento de ter prestado serviço, nessa qualidade, em qualquer outro Regimento.

Condecorado com a medalha de comportamento exemplar e com o grau de Oficial da ordem militar de S. Bento de Aviz, deixou o serviço por motivos de saúde (bronquite asmática), passando ao quadro de reserva em 1937.

Colaborou no livro "Solfejos Autógrafos de Compositores Portugueses", de Tomás Borba.

Alfredo Pinto (Sacavém), na sua Antologia sobre João de Deus, dedica algumas palavras a Guilherme Piedade, a propósito duns versos do livro "Campo de Flores" que este musicou para vozes, inserindo ainda uma lista com algumas das suas composições.

Era casado com D. Laurentina Teixeira Guedes da Piedade (natural de Lamego e filha do falecido capitão chefe de música, Evaristo António Guedes), excelente copista e pianista que lhe prestou um valioso auxílio, copiando os papéis soltos e partituras que o marido necessitava para o seu trabalho.

Faleceu este distinto chefe de música e compositor na sua casa de Aviz, no dia 28 de Junho de 1952. Recordando o seu nome, prestamos a nossa modéstia mas sincera homenagem à memória do saudoso amigo e nosso primeiro professor de Harmonia, que tanto amor dedicou à sua arte, à arte sublime da sua profissão (4).

in Álvaro Carneiro, A Música em Braga, pp. 284-289
Biografias de artistas que nesta cidade se distinguiram como profissionais ou amadores
Composto e Impresso na Escola Tipográfica das oficinas de s. José Braga
Separata de THEOLOGICA
1959

(4) - Os elementos para a presente biografia, quase na sua totalidade, foram-nos gentilmente fornecidos pela Ex. ma Senhora D. Dinah Guedes da Piedade e pelo seu irmão, Snr. Engenheiro Afonso Guedes da Piedade, filhos do nosso biografado, a quem manifestamos aqui o nosso profundo reconhecimento.

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